quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A foto de Capa.

 
 
 
Falling Soldier, 1937, de Robert Capa (ou Gerda Taro?)
 
 
 
Falling Soldier, ou Morte de um miliciano, uma das imagens míticas da história da fotografia. Sobre ela, existem infindas teorias, algumas das quais asseguram que a fotografia foi encenada, tee veementemente refutada pelo biógrafo de Capa, Richard Whelan (aqui). E fazem-no, de um lado e doutro, com argumentos técnicos, que cada qual ajuizará se são ou não convincentes. O biógrafo de Robert Capa, Richard Whelan, sustenta que as imagens foram captadas em Cerro Muriano, Córdova, em 5 de Setembro de 1936 (ou 4 de Setembro?). Para o efeito, baseia-se no facto de, na sequência de fotografias conservadas no espólio de Capa, a imagem do soldado alvejado surgir imediatamente antes da série dedicada aos que fugiam de Cerro Muriano. Um ano depois, Capa daria uma entrevista ao nova-iorquino World-Telegram, sustentando que o soldado tombado se encontrava sozinho, naquela colina. Whelan provou não ser verdade: outras imagens suas revelam que, nas imediações, existiam soldados, que disparavam a partir de uma trincheira (cf. Richard Whelan, Robert Capa. A biography, University of Nebraska Press, 1985, p. 96).
          A imagem continuou, durante muito tempo, a ser catalogada como tendo sido captada em Cerro Muriano. Assim acontece no álbum esmagador organizado por Whelan: Robert Capa. The Definitive Collection, Pahidon, 2001, p. 81. Na Internet, existem trabalhos interessantes, que procuram descobrir e localizar os lugares onde Capa tirou as suas célebres imagens daqueles que, em choque e pavor, fugiam da frente de batalha. Capa não estava sozinho. Acompanhava-o Gerda Taro (1910-1937), e há não muito houve uma exposição imperdível, Esto es la guerra! Robert Capa / Gerda Taro, patente no Círculo de Bellas Artes de Madrid em 2010. Alguns fotojornalistas andavam naqueles lugares. Entre eles, Hans Namuth (1915-1990), que fotografou igualmente os refugiados da guerra. A publicação de outra obra de Richard Whelan, Robert Capa at Work. Thisis War; Photographs 1936-1945 (Steidl, 2007), com imagens inéditas, intrigou o historiador espanhol Fernando Penco Valenzuela. Como tinha dito Whelan, há imagens que mostram soldados nas trincheiras, provavelmente perto do falling soldier. Estudando profundamente o local, comparando a imagem com a topografia de terras de Córdova, Fernando Penco conseguiu determinar que a célebre obra de Capa fora tirada não em Cerro Muriano mas a quilómetros dali, em La Haza del Reloj,  Espejo. É essa a tese central do seu livro, interessantíssimo, La foto de Capa. Além da determinação do local, Fernando Penco aduz outros argumentos. Segundo ele, uma fotografia de Hans Namuth mostra – ou pode mostrar – Robert Capa e Gerda Taro dirigindo-se para a frente de combate, numa marcha de sentido inverso daquela que tomavam os civis apavorados. Afirma ainda que a fotografia de Capa foi, muito provavelmente, captada numa trincheira. E vai mais longe, colocando a hipótese de a imagem não ser da autoria de Robert Capa mas de Gerda Taro.
         Tudo isto poderá parecer demasiado técnico e irrelevante. Não é. Estamos a falar de um dos ícones fotográficos do século XX. Não por acaso, segundo Fernando Penco explica no seu livro, a tese que atribui a imagem a El Espejo (e não a Cerro Muriano) foi tomada de empréstimo, abusivamente, por um académico do País Basco. E o International Center of Photography, guardião do espólio de Robert Capa, mantém um silêncio ensurdecedor sobre todas estas questões. Este ano, no Museu Nacional da Hungria, por ocasião do centenário de Capa, esteve patente em Budapeste uma outra exposição imperdível, com um nome apropriadíssimo: Robert Capa / The Gambler. Capa foi um jogador de verdade, sendo viciado nas apostas em corridas de cavalos. Mas foi um jogador toda a vida, uma personalidade ímpar. Agora, joga ao gato e ao rato com a sua imagem mais célebre. Não sabemos se é da sua autoria, se é autêntica ou encenada, a data exacta e em que local preciso foi captada. As investigações prosseguem... Fomos entrevistar Fernando Penco Valenzuela, a quem agradecemos muito a disponibilidade para falar connosco. 
 
 
 
 
 
Comecemos pela controvérsia sobre se a fotografia de Robert Capa é ou não «autêntica». Na tua opinião, a imagem corresponde à realidade ou foi encenada?
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Muy probablemente, por las fechas en que se tomó – 4 de septiembre –  fue un posado. En esos días el frente de Espejo estaba inactivo.
 
Como defendes no teu livro La foto de Capa, a imagem foi captada em La Haza del Reloj e não, como se pensava até aqui, em Cerro Muriano. Como explicas que a imagem tenha sido situada em Cerro Muriano, em obras dos maiores especialistas em Capa, como Richard Whelan? Tratou-se de um erro do próprio Robert Capa?
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Whelan actuó casi razonablemente… Fue una entrevista que hizo a Hans Namuth en Nueva York, mientras preparaba su Biografía sobre Robert Capa, la que le llevó a Cerro Muriano. Namuth había fotografiado a una refugiada, la tarde del 5 de septiembre a las afueras de Cerro Muriano y esa misma mujer también fue retratada por Robert Capa. “De modo que si la secuencia del miliciano era inmediatamente anterior a la de los refugiados, luego entonces la foto se hizo allí”: es lo que dedujo Whelan.
El verdadero problema es que Richard Whelan nunca estuvo en Cerro Muriano y no pudo comprobar in situ que la foto se hubiera hecho allí. Además, la única imagen supuestamente perteneciente al carrete del miliciano que poseía referencias geográficas, la que aparecerá en This is war! Robert Capa at work con el fondo montañoso – fue la que nos llevó hasta La Haza del Reloj, Espejo – se mantuvo guardada durante años. 
 
 

Gerda Taro (fotografia de Robert Capa, 1937)

 
 
 
Mesmo quanto à autoria da imagem, subsistem dúvidas, tanto podendo a mesma ser de Robert Capa como de Gerda Taro. No entanto, qual é a tua opinião?
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En un fantástico y reciente ensayo sobre The falling soldier, su autor Eijiro Yoshioka – conservador de fotografía del Museo Fuji de Japón y amigo personal de Cornell Capa y de Richard Whelan – defiende abiertamente que la imagen se tomó con una REFLEX KORELLE y no con la LEICA, tal y como se pensaba. Si a las tesis de Yoshioka se une que los máximos expertos en Capa y Taro, Richard Whelan e Irme Schaber, respectivamente, atribuyen a Taro la REFLEX KORELLE y a Robert Capa la LEICA, quizá haya que ir pensando más en ella.
 


A imagem de Capa (em baixo) e uma fotografia do local tirada nos nossos dias (em cima)
 
 
 
De acordo com o teu livro, o resultado da sua investigação, feita em colaboração com o fotógrafo Juan Obrero Larrea, foi objecto de uma «apropriação», especialmente pelo professor Susperregui, da Universidade do País Basco. Como explicas que isto tenha acontecido? E porque razão o International Center of Photography não reconhece – como o fez o jornal El Periódico – que a localização em La Haza del Reloj se deve a ti?
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Son cuestiones que quizá no me corresponda contestar a mí. En cuanto a la primera de ellas, es obvio que no se ha actuado correctamente con un trabajo – el  nuestro – que, con sólo citarlo, hubiese sido suficiente. No es la primera vez que me ocurre esto; en otra investigación en la que pude descubrir a Robert Capa y a Gerda Taro yendo de espaldas, camino del frente de Cerro Muriano, cosa que se publicaba por primera bajo el título “Una sorprendente foto de Namuth” (26/04/2010) –véase mi web de investigación www.capaencordoba.com –y, más tarde en La foto de Capa, ha sido apropiada por expertos como Lefebvre, Lebrun o, de nuevo, Susperregui y lamentablemente tampoco se ha citado. Sin embargo, en mi último artículo “Gerda Taro: una fotógrafa olvidada”, en www.revistamito.com, yo si cité por ejemplo a Susperregui. Es evidente que cualquier trabajo científico serio y honesto, ha de mencionar la fuente.      
 
 
Fotografia de Hans Namuth.
Segundo Fernando Penco, o casal que caminha,
no lado direito da imagem, pode ser Robert Capa e Gerda Taro
 
 
En cuanto a que el ICP no reconozca nuestra investigación de Espejo es triste y duro. Ellos conocen el Informe, registrado en organismos oficiales, desde hace años y de alguna manera mantienen el contacto conmigo, mostrándose siempre interesados en mis trabajos sobre la foto. Aunque no todo es malo y autores como Yoshioka – quien dedica un capítulo de su ensayo a nuestra investigación– o, Marco Cicala, quien en colaboración con el mismísimo Mario Dondero, acaban de publicar en Il venerdí di Repubblica: “Anatomia di una foto”, artículo que también se hace eco de nuestro trabajo [ver o filme aqui].

 

 
 
 
 
Não existirão formas de aprofundar a tua investigação? Por exemplo, existirão notas ou cadernos pessoais de Robert Capa, de Gerda Taro ou  de Hans Namuth?
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Si hay datos en los que ahondar y que, sin duda, arrojarán luz. Creo que la imagen del miliciano aún guarda sorpresas… Por ejemplo habría que mirar a Chim – otra incógnita – o al Archivo Histórico del PCE, donde hay un importante número de negativos que muy probablemente salieron de las cámaras de Capa, Taro y Chim.
 
Sendo um historiador e também arqueólogo, e uma vez que a tua tese defende que Capa terá fotografado numa trincheira, não seria possível realizar escavações que permitissem a descoberta dessa trincheira em La Haza del Reloj?
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Sería necesario y es en lo que se está trabajando. Sabemos que ellas contienen una información, que será determinante. 
 
Realizou-se há pouco o primeiro encontro «Capa en Espejo»…
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Ya se celebró y, en lo que a la foto del miliciano respecta, mi conferencia se centró en los nuevos trabajos de Yoshioka y en la posibilidad de que la imagen, si se demuestra que se hizo con la REFLEX KORELLE, pudo haber sido tomada por Taro: pero esto es sólo una hipótesis, abrir un camino que ya no parece tan ficticio…   
 
Por último, uma questão mais geral: qual a relevância histórica de a imagem ter sido captada em La Haza del Reloj e não em Cerro Muriano? Pedia que explicasses aos leitores portugueses a importância desta diferença, isto é, se são localidades muito afastadas entre si, que papel tiveram na «frente de Córdova» na Guerra Civil, etc.
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La distancia es de unos 50 km, al suroeste… En 1936, el frente de Espejo era de los más subversivos y revolucionarios. Allí se daban verdaderos ejemplos de colectivización de la tierra y de reparto comunal. En mis estudios sobre las primeras fotos que Capa y Taro sacaron en la Guerra civil –Barcelona, frente de Aragón, Córdoba, etc. – observé que buena parte de ellas pertenecían a milicianos y libertarios, y el foco del anarquismo y del comunismo libertario en Córdoba, se hallaba precisamente en el frente de Espejo: ése, y no otro, fue el motivo por el que le dije a mi compañero de viaje Juan Obrero, que debíamos de escrutar a fondo tan indomable e interesante zona. 
 
 
 
 
Texto e entrevista de António Araújo
 
 
 

3 comentários:

  1. Muita cera para tão modesto defunto.Chamado baralha e volta a dar com fotos e etc...

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  2. Em "O Pintor de Batalhas", Arturo Pérez-Reverte (ele próprio repórter de guerra durante muitos anos) põe a protagonista a dizer que nunca viu ninguém em combate com as joalheiras tão limpas como o guerrilheiro de Capa.

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  3. Este artículo no dice la verdad. Yo, José Manuel Susperregui, no tomé abusivamente la localización de Espejo, sino todo lo contrario. Mi libro se publicó en mayo de 2009 y Fernando Penco salió con esa infamia en enero de 2010, cuando registró un informe que no aporta absolutamente nada, atribuyéndose el descubrimiento de la localización de la foto del miliciano en la localidad de Espejo. Cuando conocí a Penco en Cerro Muriano en noviembre de 2008, y le dije que la foto no fue realizada en Cerro Muriano porque el paisaje no coincidía con el paisaje de la fotografía Milicianos disparando al horizonte, que es la clave para la localización de la foto de Capa en la localidad de Espejo, Penco insistía en que fue realizada en Cerro Muriano, porque como iba de experto y en realidad no sabía nada, entró en pánico y se defendió con infamias hacia mi. La diferencia entre Penco y yo, está en que yo trabajo e investigo, y Penco se dedicaba a presentar proyectos de investigación para recibir dinero. En ese libro que presenta, entre otras cosas, le pregunta a Cynthiua Young sobre si Richard Whelan le hizo algún comentario sobre su descubrimiento de Espejo. !Pero cómo le iba a comentar nada, si Richard Whelan hacía dos años que había fallecido¡ Cuando se publican este tipo de texto hay que tener un mínimo de seriedad y no se puede acusar a un investigador honrado de haberse apropiado de los logros de otros. Por lo tanto al responsable de esta página web le exijo una reparación de mi buen nombre y de mi prestigio.

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